Obsessão e Fixação Mental

Há causas específicas, que atuam imediatamente no espírito levando-o à submissão doentia e rumo a obsessão. Pode-se resvalar aos poucos para a influência maléfica pela "invigilância"; ou rapidamente, nutrindo "paixões, vícios e crimes".

A invigilância é o modo de viver descuidado, no qual não prestamos atenção ao que pensamos e fazemos, de modo a permitir certas inclinações crescerem à vontade, sem exame crítico. Segundo Emmanuel e Scheila, pela mão de Francisco Cândido Xavier, a obsessão torna-se um "perigo" provável sempre que permitamos se torne um hábito:

a cabeça e as mãos desocupadas;

a palavra irreverente;

a boca maledicente;

a conversa inútil e fútil, prolongada;

a atitude hipócrita;

o gesto impaciente;

a inclinação pessimista;

a conduta agressiva;

o apego demasiado a coisas materiais;

o comodismo exagerado;

a solidariedade ausente;

tomar os outros pôr ingratos ou maus;

considerar o nosso trabalho excessivo;

o desejo de apreço e reconhecimento;

o impulso de exigir mais dos outros do que de nós mesmos;

fugir para o álcool ou drogas .

No entanto, mais do que um perigo, a obsessão já estará em desenvolvimento quando:

Surgirem idéias fixas torturantes que interrompem o curso dos pensamentos próprios, difíceis de afastar da mente.

Sentir a vontade dominada pôr outra vontade, estranha e invisível.

Experimentar inquietação crescente sem causa aparente.

Forem excitados desejos fortes além do habitual.

Emergirem impulsos adormecidos, mais ou menos inconscientes.

Aparecerem indisposições agressivas contra alguém sem motivo patente.

Em tais circunstâncias, o recomendável é tratar de recorrer à prece e de por as mãos no trabalho para "renovação da mente".

As paixões são moléstias dos sentimentos, apresentam-se como estados afetivos intensos e duradouros. Contudo, não são para serem estimuladas; paixões significam apego excessivo a pessoas, objetos, instituições e causas. São aberrações mentais e sentimentais; levam à guerra e ao crime. O sujeito apaixonado por uma mulher, pelo poder, pelo ouro, pela bebida, pelo jogo etc., é capaz de tudo para satisfazer-se. Uma paixão por pessoa ou objeto pode estabelecer uma fixação mental capaz de prender o espírito até por séculos numa posição de desequilíbrio em que o seu pensamento revoluteia continuamente em torno dela ou dele; nada mais lhe interessa, passa o tempo, o mundo transforma-se e ele com a mente ocupada pela idéia fixa referente ao passado distante. A renovação é a própria essência da vida do espírito, que é forçado a viver no meio de suas criações...

A idéia fixa pode operar a indefinida estagnação da vida mental no tempo. Em qualquer frente de luta terrestre, a retaguarda é a faixa atormentada dos neuróticos, dos loucos, dos mutilados, dos feridos e dos enfermos de toda casta. Quando felizes, não tomamos conhecimentos dos minutos. Satisfazendo aos nossos ideais ou interesses mais íntimos, os dias voam céleres, ao passo que, em companhia do sofrimento e da apreensão, temos a idéia de que o tempo está inexoravelmente parado. E quando não nos esforçamos por superar a câmara lenta da angústia, a idéia aflitiva ou obcecante nos corrói a vida mental, levando-nos à fixação. Chegados a essa fase, o tempo como que se cristaliza dentro de nós, porque passamos a gravitar, em espírito, em torno do ponto nevrálgico de nosso desajuste. Qualquer grande perturbação interior, chame-se paixão ou desânimo, crueldade ou vingança, ciúme ou desespero, pode imobilizar-nos por tempo indefinível em suas malhas de sombra, quando nos rebelamos contra o imperativo de marcha incessante com o Sumo Bem.

Quando não nos desvencilhamos dos pensamentos de flagelação e derrota, através do trabalho constante pela nossa renovação e progresso, transformamo-nos em fantasmas de aflição e desalento, mutilados em nossas melhores esperanças ou encafurnados em nossas chagas íntimas. E quando a morte nos surpreende nessas condições, acentuando-se-nos então a experiência subjetiva, se a alma não se dispõe ao esforço heróico da suprema renúncia, com facilidade emaranha-se nos problemas da fixação na repetição de reminiscências desagradáveis, das quais nutre e vive; não se interessando por outro assunto a não ser o da própria dor, da própria ociosidade ou do próprio ódio; a criatura desencarnada, ensimesmando-se, é semelhante ao animal no sono letárgico da hibernação. Isola-se do mundo externo, vibrando tão somente ao redor do desequilíbrio oculto em que se compraz. Nada mais ouve, nada mais vê e nada mais sente, além da esfera desvairada de si mesma. A reencarnação, em tais circunstâncias, é o mesmo que conduzir o doente inerte a certa máquina de fricção para o necessário despertamento. Intimamente justaposta ao campo celular, a alma é a feliz prisioneira do equipamento físico, no qual influencia o mundo atômico e é por ele influenciada, sofrendo os atritos que lhe objetivam a recuperação.

Na maioria das vezes, o soerguimento é vagaroso. Podemos comprovar isso no estudo das crianças retardadas, que exprimem dolorosos enigmas para o mundo... Somente o extremado amor dos pais e dos familiares consegue infundir calor e vitalidade a essas crianças que, não raro, se demoram por muitos anos na matéria densa, como apêndices torturados da sociedade terrestre, curtindo sofrimentos que parecem injustificáveis e estranhos e que constituem para eles a medicação viável.

Vejamos o caso daquela moça que por quase dois séculos, tinha pensamentos tão somente para um espelho no museu. E para ilustrar , podemos citar também a mediunidade de psicometria, que "designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contacto de objetos comuns". Conforme relata André Luiz (Nos Domínios da Mediunidade), após tocar no espelho,ele descreve:

"Este espelho originalíssimo foi confiado à jovem por um rapaz que lhe prometeu casamento. Vejo-lhe a figura romântica nas reminiscência dela. Era filho de franceses asilados no Brasil, ao tempo da França Revolucionária de 1791. Menino ainda, aportou no Rio e aí cresceu e se fez homem. Encontrou-a e conquistou-lhe o coração. Quando arquitetavam projetos de casamento, depois da mais íntima ligação afetiva, a família estrangeira, animada com os sucessos de Napoleão, na Europa, deliberou o retorno à Pátria. O moço pareceu desolado, mas não desacatou a ordem paterna. Despediu-se da noiva e lhe implorou guardasse a peça como lembrança, até que pudesse voltar, e serem então felizes para sempre... Contudo, distraído na França pêlos encantos de outra mulher, não mais regressou, depressa esqueceu responsabilidades e compromissos, tornando-se indiferente. A pobrezinha, no entanto, fixou-se na promessa ouvida e continua a espera-lo. O espelho é o penhor de sua felicidade. Imagino a longa viagem que terá feito no tempo, vigiando-o como propriedade sua, até que a lembrança viesse pôr fim repousar no museu". A influência não procede do espelho, mas sim das forças que o acompanha. O pensamento espalha nossas próprias emanações em toda parte a que se projeta...

Pensar demais em si mesmo e nos próprios problemas, determina uma auto obsessão.

É imprescindível compreender que, depois da morte do corpo físico, prosseguimos desenvolvendo os pensamentos que cultivávamos na experiência carnal. E não podemos esquecer que a Lei traça princípios universais que não podemos trair.

Espíritos e seres encarnados, aos milhões, trazem a mente dominada por idéias fixas, às quais André Luiz se refere fartamente.

Os espíritos obsessores estão cheios de idéias fixas; deveras, sua única cogitação é a vingança que exercem, sua única recordação é o mal que sofreram no passado, seu exclusivo sentimento é o ódio que lhes sustenta e corrói a alma. Fora disto, poucos pensam, sendo mui difícil leva-los a considerar questões como: os seus legítimos interesses; a lei de ação e reação; uma nova perspectiva de vida ou esperança de uma existência mais produtiva.

Os obsedados, comumente, são martelados por pensamentos mórbidos insuflados pelos perseguidores desencarnados, como ordem para matar, agredir, roubar, suicidar-se, e não é incomum que acabem lhes dando cumprimento. Na polícia, com freqüência, homicidas declaram que tantas ordens intracranianas receberam a ponto de não lhes ser possível continuar resistindo; não se julgam de modo algum responsáveis pelos delitos praticados com suas mãos.

A causa fundamental da influência obsessiva reside nas imperfeições que o espírito alimenta ao se desviar do rumo evolutivo traçado pela lei de amor e justiça de Deus. A vítima sempre consente no assédio ou por sua fraqueza ou por deseja-lo. Em todos os casos ela presta o seu concurso ao obsessor. No primeiro caso, o sujeito perdeu a capacidade de reagir, por ligar-se ao mal. No segundo, gosta de uma dependência que lhe lisonjeia os desejos, o orgulho, o egoísmo, a vaidade, etc. Por conseqüência, entregou-se voluntariamente à ligação mental perturbada.

Saúde à todos.

Oliver.

Fontes: Nos bastidores da obsessão, Manuel P. de Miranda; Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz; Missionários da Luz, André Luiz.

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