Obsessão e
Desobsessão
Permanecem em torno da terra os maus espíritos, em conseqüência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses espíritos é parte integrante dos flagelos com que a humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão, que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todos as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou expiação e aceita com esse caráter. Obsessão - do latim obsessione. Impertinência, perseguição, vexação. Preocupação com determinada idéia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados; idéia fixa; mania . (Dicionário da Língua Portuguesa- Aurélio Buarque de Holanda ). Entre nós espíritas, o termo tem acepção mais profunda, tal como foi colocado por Kardec: "chama-se obsessão à ação persistente que um espírito exerce sobre um indivíduo". Ela apresenta caracteres diferentes, que vão deste a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível as influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um espírito "mau". Quase sempre, a obsessão exprime vingança tomada por um espírito cuja origem freqüentemente se encontra nas relações que o obsediado manteve com o obsessor, em precedente existência. Obsessão, portanto, é uma cobrança que bate às portas da alma; é um processo bilateral e faz-se presente porque existe de um lado o cobrador, sequioso de vingança, sentindo-se ferido e injustiçado, e do outro lado o devedor, trazendo impresso no seu perispírito as matrizes da culpa, do remorso ou do ódio que não se extinguiu. São de vários estados de sutileza em que possa apresentar-se, que não é detectada com facilidades, passando muitas vezes inteiramente despercebida. Ação e reação , hoje, choramos ao peso das aflições que nós mesmos semeamos. Agora, reclamamos pêlos padecimentos obsessivos que nos atormentam a alma. Somos os atormentadores, agora atormentados, como nos fala Manoel Philomeno de Miranda. A obsessão é um problema a expressar-se de várias maneiras:
A obsessão é escravização temporária do pensamento, imantando credores e devedores, que inconscientemente ou não se buscam pelas leis cármicas; pelo pensamento nós nos libertamos ou nos escravizamos... A existência dos fatores predisponentes, causas cármicas, facilitam a aproximação dos obsessores, que, entretanto, necessitam descobrir o momento propício para a efetivação da sintonia completa que almejam. Este momento tem o nome de invigilância, é a porta que se abre para o mundo íntimo, facilitando a incursão de pensamentos estranhos. Pensamentos e estados emocionais negativos criam zonas mórbidas em nosso campo mental, facultando a inoculação de pensamento alheio, que, virulento, por ser de teor inferior, age em nós como se fora uma afecção mental, instalando-se em decorrência o processo obsessivo... Encontrando em sua vítima os condicionamentos, a predisposição e as defesas desguarnecidas, disso tudo se vale o obsessor para instalar a sua onda mental na mente da pessoa visada. A invigilância e o modo de viver descuidado, no qual não prestamos atenção ao que pensamos e fazemos, de modo a permitir certas inclinações crescerem à vontade, sem exame crítico; a obsessão torna-se um perigo provável sempre que permitimos se torne hábito: a cabeça e as mão desocupadas; a palavra irreverente; a boca maledicente; a conversa inútil e fútil prolongada; a atitude hipócrita; o gesto impaciente; a inclinação pessimista; o apego demasiado a coisas e pessoas; o comodismo exagerado; a solidariedade ausente; considerar o nosso trabalho excessivo; o desejo de apreço e reconhecimento; o impulso de exigir mais dos outros do que de nós mesmos e fugir para o álcool ou drogas... Agora, mais do que um perigo, a obsessão já estará em desenvolvimento quando: Surgirem idéias fixas torturantes que interrompem o curso dos pensamentos próprios, difíceis de afastar da mente; sentir a vontade dominada por outra vontade, estranha e invisível; experimentar desejos fortes além do habitual; emergirem impulsos adormecidos, mas ou menos inconscientes e aparecerem indisposições agressivas contra alguém sem motivo patente . Em tais circunstâncias, o recomendável é tratar de recorrer à prece e de por as mãos à obra para renovação da mente... Ninguém se engane, o obsidiado só se libertará quando ele mesmo se dispuser a promover a sua auto-desobsessão. Sabemos que existem obsessões incuráveis na presente encarnação. Que determinados casos de subjugação, de processão não serão solucionados agora. São aqueles que exigem tratamento a longo prazo; o lento , mas belo processo de redenção da alma que esforça por sua transformação; que luta consigo mesmo para superar o passado tiranizante, que é uma batalha prolongada... Dos tormentosos processos obsessivos, o homem só se liberará quando entender o quanto é responsável pelo próprio tormento e pêlos que infligiu aos que hoje lhe batem às portas do coração, roubando a paz que julgava ter. "Liberdade e responsabilidade"; para se ter a primeira, temos que assumir a segunda... Enfermos da alma, doentes em processo de tratamento de longo curso, pois que somente agora despertamos para a realidade do nosso próprio estado íntimo, encontramos no Cristianismo Redivivo (Espiritismo) a única terapêutica em condições de nos tornar sãos. Remontando às causas, penetrando nas origens dos males que nos acometem, possibilita-nos um trabalho de renovação de dentro para fora, cicatrizando ulcerações que nasceram da irresponsabilidade, do esquecimento das leis divinas, do abuso e da omissão. No âmbito geral, todos os ensinamentos do Espiritismo constituem preciosos recursos para a obtenção da cura espiritual de que todos nos carecemos. Sem embargo, o Espiritismo possui recursos especiais, que são acionados como parte do tratamento, tanto nas moléstias do corpo quanto do espírito. O tratamento é um trabalho que demanda tempo e exige dedicação e perseverança. O esclarecimento será feito através de conversações, de reuniões adequadas, de palestras, de leituras de obras espíritas e para cada caso, serão adotadas as medidas compatíveis. Mesmo quando o paciente não apresentar condições para o esclarecimento, ainda assim devemos conversar com ele e usando uma abordagem apropriada ao caso. Isto é importante e traz bons resultados para o enfermo, é o que nos aconselha Manoel Philomeno de Miranda, explicando que eles devem ser esclarecidos "através de mensagens esclarecedoras ao subconsciente, pela doutrinação eficaz, conclamando-o ao despertamento, do que dependerá sua renovação". As vezes, o tratamento é fácil; com algumas sessões no centro espírita, o espírito obsessor percebe o erro em que vivia e afasta-se. Por via de regra, porém, é longo , difícil e cheio de surpresas. Há obsessões violentas que se curam depressa e há obsessões tranqüilas que parecem incuráveis. Na maioria dos casos, o obsedado não pode ajudar a si mesmo, em vista da fraqueza, ignorância ou subjugação; sua inteligência e vontade estão embotadas, senão anuladas mesmos. A condição essencial para o sucesso do tratamento é a vontade de curar-se que tenha o doente. A cura exige que ele se esforce por renovar a mente; renovação interior. É preciso despertar, acordar semelhantes vontade de modificar-se, o que não é fácil. Muitos obsedados, seduzidos pelas falácias sugeridas, repelem qualquer ajuda. Compreende-se, logo, em face do exposto, o quanto cumpre ser cauteloso em fazer promessas de curas aos familiares ansiosos; pessoas há que julgam não haver maior dificuldade no caso. Também faz-se indispensável não perder de vista que o auxílio dispensado visa à reforma dos dois: vítima e obsessor. As ligações entre obsessor e obsedado são profundas e antigas na maioria dos casos, não podendo ser desfeitas com ação unilateral, senão em poucos casos; tanto que o afastamento do obsessor , não significa cura. O amor, tal qual Jesus no-lo ensinou, é o único antídoto contra esse mal que grassa de maneira tão avassaladora: a obsessão. Assim como o corpo necessita respirar, alimentar-se e repousar, a necessidade primordial do espírito é o amor, para se ver curado das enfermidades que o prejudicam. Quando aprendermos a amar sem reservas, desinteressadamente; quando conseguirmos amar sem exigências, em completa doação; quando houver em nós o amor em sua plenitude, amor que se reparte por toda a humanidade, então não haverá ódios e malquerenças, guerras e disputas, desafetos e obsessores. Se queremos o nosso aperfeiçoamento e o dos nossos semelhantes, se anelamos pela melhoria do planeta que vivemos, devemos cultivar o amor em nós , para reparti-lo com todos os seres humanos. Lembrando-nos de que esse aprendizado começa no lar, com o parente difícil, com aqueles que nos fiscalizam, sejam eles encarnados ou não, com o "próximo mais próximo" que, possivelmente, é o obsessor de ontem, agora reencarnado bem perto de nós. Por isto, o amor é o antídoto; porque ele nos possibilita a conquista daqueles a quem devemos e cicatriza todas as ulcerações existentes em nosso mundo interior. "Aquele que encontrou Jesus já começou o processo de libertação interior e de desobsessão natural" (Eurípedes Barsanulfo); encontrar Jesus, realmente, significará mudança radical na intimidade do nosso ser. Será a reforma definitiva, o nascimento de um homem novo. Bem poucos encontram Jesus em plenitude. A maioria de nós O estamos buscando ainda... Que não nos desviemos do caminho, porque já o tempo escasseia. Importa manter acesa a chama da luz e da esperança...
Oliver. Fonte de pesquisa: (Nos domínios da Mediunidade, libertação- André Luiz; Nos bastidores da obsessão, Grilhões partidos- Manoel P. de Miranda; Obsessão e desobsessão- Suely Caldas Shubert; Obras póstumas - Kardec). |