Resgate

Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis conseqüências , como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de uma felicidade.

A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do espírito. Toda imperfeição é causa de sofrimentos e de privação da felicidade, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de felicidade e atenuante de sofrimentos. A soma das penas é, assim, proporcionada à soma das imperfeições, como a felicidade é proporcionada à qualidades. A alma que tem dez imperfeições, pôr exemplo, sofre mais do que a que tem três ou quatro; pela mesma razão, a alma que possui dez perfeições, tem mais felicidades do que outra menos rica de qualidades...

A lei do progresso dá a todos a possibilidades de adquirir o bem que lhe falta, como de despojar-se do que tem de mal...

O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimentos, o espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida. Quando Kardec propôs a pergunta 642 no Livro dos Espíritos:

"Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal ?" Os espíritos responderam: Não, cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá pôr todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem. Como vê, a responsabilidade é maior do que imaginamos, como disse Jesus: é menos censurável um cego que caia dentro do fosso, do que aquele que enxerga...

O bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha conseqüências fatais, como não há uma ação meritória, um bom pensamento que se perca...

A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre pôr erros alheios, salvo se a eles deu origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia faze-lo.

O espírito sofre pelo mal que fez, de maneira que, sendo a sua atenção voltada constantemente para as conseqüências desse mal, melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se. Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga, se não for em uma existência, será na seguinte, porque todas elas são solidárias entre si.

O espírito sofre, no mundo espiritual ou no mundo corporal, as conseqüências das suas imperfeições. As misérias, as vicissitudes são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências. Pela natureza dos sofrimentos da vida, pode-se julgar a natureza das faltas cometidas e das imperfeições que as originaram. A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas, conforme as circunstâncias,

atenuantes ou agravantes, em que for cometida. Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração das penas; a única lei geral é que toda falta terá punição, e terá recompensa todo ato meritório, segundo o seu valor.

A duração da pena depende da melhoria do espírito culpado; desse modo, o espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pôr permanecer no mal, bem como, suavizá-los e anulá-los pela prática do bem.

O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta pôr si só; são precisas a expiação e a reparação. "Arrependimento, expiação e reparação" constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os

traços de uma falta e suas conseqüências.

O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. O arrependimento pode dar-se pôr toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, o culpado sofre pôr mais tempo até que os últimos vestígios da falta desapareçam.

A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após o desencarne ou ainda em nova existência corporal.

A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, pôr fraqueza ou má vontade, achar-se-á numa nova existência posterior em contato com as mesmas pessoas que de si tiveram queixas. Nem todas as faltas acarretam prejuízo direto e efetivo, em tais casos a reparação se opera, proporcionando as missões; praticando o bem, em compensação do mal praticado, isto é , tornando se humilde quando foi muito orgulhoso, amável quando se foi muito austero, caridoso quando se foi muito egoísta, benigno quando se foi muito perverso, útil quando se foi muito inútil, enfim, trocando pôr bons os maus exemplos efetuados.

A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar verdadeira lei de reabilitação moral dos espíritos. Algumas pessoas repelem-na porque acham mais cômodo poder quitarem-se das más ações pôr um simples arrependimento, que não custa mais que palavras, ou pôr meios de algumas fórmulas... "Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo, para que cada qual tivesse o seu mérito".

Quando esta perspectiva de reparação for inculcada na crença das massas, será um outro freio aos seus desmandos, e bem mais poderoso que o "inferno e respectivas penas eternas".

O único meio de evitar ou atenuar as conseqüências futuras de uma falta, está no repara-la, desfazendo-a no presente. Quanto mais nos demorarmos na reparação de uma falta, mais penosas e rigorosas serão no futuro, as suas conseqüências.

A misericórdia de Deus é infinita, porém, não é cega. Subordinadas ao arrependimento e reparação, as penas constituem-se como "castigos e remédios auxiliares à cura do mal." Se os doentes, pelo próprio descuido de si mesmos prolongam a enfermidade, o médico nada tem que ver com isso...

A cada um segundo as suas obras, no "céu como na terra," tal é a lei da justiça Divina...

Espero ter contribuído para aclarar melhor as suas idéias sobre o arrependimento... Quase todas estas considerações foram extraídas do livro "O céu e o inferno de Allan Kardec", portanto, sugiro que você o leia.

Oliver

Fontes (O céu e o Inferno, O livro dos Espíritos- Allan Kardec; Ação e Reação, No mundo Maior- André Luiz)

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